sábado, abril 30, 2005

Segundo tempo

Fui me servir da janta. Arroz, feijão e costelinha de porco. Primeiro o arroz, depois o feijão. É assim que se come, nada de derramar aquele monte de caldo de feijão e tacar o arroz por cima. Não, o arroz vai por baixo. Me ofereço cinco pedaços tenros de costelinha. Vou mastigar em frente a tevê.

Ligo e cai direto na Rede-Vida de Televisão, que está transmitindo um jogo, provavelmente de uma sub-divisão do futebol. Dou uma leve passada pelos outros canais. Na RedeTV!, passava um comentário sobre a Cicarelli ter perdido o filho. Na Globo, a entrada do Jornal Nacional apitava feito louca. Decidi voltar a Rede-Vida de Televisão "o canal da família brasileira".

O jogo estava em 1x1. Comercial e Bandeirante disputavam a partida em Birigui, uma cidade interiorana. A primeira coisa que o narrador falou foi um CARDOSO, assim mesmo, em caps lock. Ri da coincidência. Já valeu, pensei sem saber do que estava por vir. Como o CARDOSO era um jogador de frente do Comercial, que dominava o jogo, ele repetiu várias vezes o nome. Todas em caps lock, pois os outros jogadores tinham suas graças chamadas de forma normal. Comecei a me concentrar na partida. Passaram a elogiar um jogador de meia do Comercial, chamado Gabriel. Disseram que era um bom jogador, apesar da estatura baixa. Trinta segundos mais tarde, o repórter adentra a transmissão com a informação que o jogador media 1,67 centímetros. Nisso, o narrador solta: "Da sua altura, então.", o repórter retruca: "Sou 3 centímetros maior" e o narrador dá a deixa "O QUE NÃO É UMA GRANDE VANTAGEM". O comentarista se apressa, para não dar direito de resposta ao outro e solta: "E de BARRIGA, quanto ele tem?". O repórter, rindo, solta que com certeza nessa quesito ele ganha de sobra. Todos riem à beça. A palavra retorna ao narrador: "Temos que agradecer ao MESTRE SIMPATIA, pela refeição que fizemos aqui", e o comentador deixa: "Realmente ele é muito SIMPÁTICO". O repórter volta à cena e prega: "E, diga-se de passagem, que maravilha de MOCOTÓ, hein?". Todos concordam. Então, o comentarista faz um discurso: "Não, e que família FELIZ a do Simpatia. Que bom ver todos felizes, trabalhando. Você, que está em casa, sinta-se feliz por trabalhar, é uma graça. Você que está desempregado, faça uma prece, peça para que se arrume um emprego. Trabalhar é muito bom. Deixa toda a família feliz." O narrador concorda. Voltam as atenções ao gramado. Que pena que já era '35 do segundo tempo.

Terminou empatado, o jogo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hahahha, muito bom.

Francismar Lemos disse...

Quem assiste com frequência os jogos da RedeVida, bem como ouve jogos de futebol através de rádios AM pela internet é o Breno.